sábado, 22 de janeiro de 2011

Saindo de [Casa]

Sexta-feira, meio de expediente, entre uma ligação e outra, recebo um cadeau surpresa. O livro "Saindo de [Casa] Independência ou Morte!", de Bárbara Ribeiro (autora do livro, não do presente). Em meio a correria, mal pude agradecer à gentileza. Como a temática move out está bem recorrente na minha cabeça, não pensei duas vezes ao me jogar na cama e abrir o livro sem mesmo me dar ao trabalho de procurar os óculos. Pensava que leria 30 páginas, no máximo 40. Estava esperando uma amiga chegar...não para bebermos vinho, comermos canapés e discutir o governo Dilma, mas para ver fotos de viagens antigas e emprestar roupa (Sim, sou uma loser). Em dado momento percebi que levei um cano desse programão e continuei a leitura, esperando que lá pelas 22h e tanto fosse capotar de sono. Nada mais justo depois de uma semana intensa de trabalho - inclusive no feriado.
No entanto, a semelhança com os personagens me prendeu. Me relacionei com o anseio deles em sair desse lugar 'que é bom mas é uma merda'. Todos os dias me pergunto quando vou sair da casa da minha mãe, com quem, porque, pra onde.
O livro não trouxe muitas respostas, é verdade. Aliás, te deixa mais em dúvida ainda de sair de casa ou não. Nos diálogos engraçados, ágeis e ácidos que Bárbara escreve, enxergo a minha geração. Me enxergo. O que é muito difícil, pois sempre lemos sobre 1968, tropicália, cinema novo, passeata dos 100 mil, e desejamos internamente e com uma nostalgia paradoxal que estivéssemos lá.
Mas em "Saindo de Casa", não. Os cenários mencionados são tangíveis...Casa da Matriz, Drinkeria Maldita, Pista 3, Bokowski, rodas de samba, Jobi, pilotis da PUC entre muitos outros. Se o pano de fundo é tangível, os personagens são praticamente tocáveis. Eu sou a Luana, garota que anseia morar no exterior e quando consegue, não se sente em um lar, que se despede dos amigos em uma viagem e desfruta do último dia sozinha, que volta para o Rio e tem que lidar com uma roomate mimada; mas também sou a filósofa, que só fica dentro do quarto e se diverte com seu Rivotril; ou o Murilo, que é gente boa com todo mundo mas impõe limites; ou até mesmo o guitarrista, sensível, artista e, surpreendentemente, careta. Sou eu, minhas amigas e amigos, minha irmã. Resultado, li o livro todo e fui dormir pra lá de meia noite e com a pulga atrás da orelha.
É o tipo de livro que não se propõe a dar respostas, é despretencioso e dinâmico, com diálogos engraçados das pessoas que dividem um apê, o tipo de conversa que você gostaria de ter. Mas também com situações desconfortáveis, momentos de estresse e decisão, ou seja, tudo o que temos na vida real. E se a vida real não é perfeita, por que o processo de sair de casa deveria ser?