Não queria ver "Era uma vez...". O trailer não me despertou interesse pois a história já é muito batida. Só depois de um amigo elogiar bastante e de receber um panfleto na faculdade alegando que mais de 200 mil pessoas viram o filme é que comecei a considerar.
Decidi então que este seria meu programa da noite de sexta-feira. Comprei o ingresso faltando 5 minutos para o filme e, com medo de pegar lugar ruim, perguntei se a sala estava cheia. A vendedora disse que não. Depois de 1 minuto acomodada em meu lugar a sala encheu. E muito, e olha que era a sala da 13 de UCI, uma bem grande. Já fiquei contente com isso, afinal não era única que decidira prestigiar o filme na aguardada sexta-feira.
Tudo começou bem. Com 10 minutos de filme eu abri o berreiro. E isso eu considero um bom sinal, porque o longa me tocou, mesmo eu chorando por qualquer coisa. Tentava dizer para mim mesma: Lara, é só um filme. Mas não é, e isso dói. Não gosto nem de pensar que tudo que se passa ali de fato acontece, mas sei que é necessário, e impotente perante a isso, choro.
Confesso que estava apreensiva com a falta de originalidade do tema. Pensei em Cafuné, que aborda a mesmíssima coisa. Pensei que a tal da Nina (Vitória Frate) não daria conta do recado. Mas de repente parei de pensar e fui levada pela história e pelo pranto.
Gostei deste filme por diversos motivos, um deles fica a cargo do flashback logo no início. Sou fã disso. Outro é porque mostra a infância do Déco (personagem de Thiago Martins, com quem eu simpatizo muito). Adoro quando mostra a formação do caráter do personagem e, principalmente, quando ele mantém sua essência independente de qualquer coisa.
Uma coisa curiosa é que no trabalho falaram de como o ser humano é mesquinho. Prefere ver o outro se dar mal a se dar bem. Prefere a desgraça alheia ao próprio sucesso.
Um malandro fanfarrão e com dinheiro que se diz amigo do Dé se aproveita da generosidade dele sempre. E logo depois revela que o cara é vendedor de cachorro quente para a riquinha Nina. Fiquei com tanto ódio deste aproveitador safado. Sorte que o comentário dele pouco importou para a protagonista.
(VOU CONTAR O FINAL, PARE DE LER SE VOCÊ SÃO VIU!)
Mas uma coisa foi me revoltando. Por que, nessa temática, os finais não podem ser felizes? Por que tem que acabar em tragédia? Sempre.
Por que os pombinhos de classes sociais diferentes não podem se sair bem? Não entendo.
Mas a coisa que me revoltou ainda mais foi o modo como tentaram solucionar o seqüestro da Nina. Não tem nada que me irrite mais nos filmes do que atitudes imbecis. Por exemplo a Grace de "Dogville". A personagem de Nicole Kidman é estuprada pela cidade inteira e não faz NADA durante muito tempo. As pessoas a exploram e ela não toma atitude alguma. Alguns espectadores têm raiva dos cidadãos, eu tive foi da Grace. Ô mulher burra! No final ela compensa, mas ai já era tarde. Já estava tão irritada que parei de ver o filme. Em "Dançando no escuro" a Björk faz a mesma coisa, só toma atitudes estúpidas. Como isso me irrita. Lars Von Trier tem esse trunfo, me irritar profundamente. E agora a Patrícia Silveira, roteirista de "Era uma vez..." tem o mesmo trunfo.
Achei que passou dos limites a estupidez da Nina e do Dé. Shakesperiano demais para mim.
Fora o final, o filme de Breno Silveira é adorável, engraçado, dramático e revoltante ao mesmo tempo. Recomendo.